Lourdes Castro
Ano, local de nascimento 1930, Portugal
Ano, local de morte 2022
Após os estudos na sua ilha natal, Lourdes Castro prossegue formação na Escola de Belas-Artes de Lisboa, de 1950 a 1956. Em 1955, realiza uma primeira exposição individual, no Funchal, no Clube Funchalense. A sua pintura é, então, influenciada pelo fauvismo. Casa com um colega de escola, René Bertholo (1935-2005), com o qual apresenta uma exposição na Galeria Diário de Notícias, em Lisboa, em 1957. Tal como inúmeros conterrâneos da mesma geração, o casal deixa Portugal, nesse ano, para ir até Munique, «seguindo os passos de Klee», onde permanece durante algum tempo. Conhecem, aí, Jan Voss, que se torna seu amigo. No ano seguinte, e graças a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, Lourdes Castro estabelece-se em Paris.
Cria, com Bertholo, a revista KWY (1958-1963), edição de um grupo informal que reúne, para além dela e de Bertholo (que será mais tarde, um dos atores de figuração narrativa), o búlgaro Christo, o alemão Voss, e os portugueses António Costa Pinheiro, José Escada, João Vieira e Gonçalo Duarte. O grupo organiza exposições (em 1960, em Saarbrücken e em Lisboa; em 1961 em Paris; em 1962 em Bolonha), publica uma revista e edita obras, trabalhando essencialmente na arte da serigrafia.
Até 1960, Lourdes Castro, influenciada pelo amigo Arpad Szenes, usa uma técnica de pintura que se pode classificar como abstração lírica. Depois, em 1961, muda por completo. Abandona a pintura e aproxima-se dos pintores que se agrupam sob a designação de Nouveaux Réalistes: realiza assemblages de objetos heteróclitos destinados ao esquecimento. São apresentados no interior de caixas e uniformizados por uma camada de tinta prateada. A artista brinca com acumulações de letras de imprensa ou cápsulas de garrafas. O crítico Pierre Restany defende o seu trabalho, que considera próximo do de Arman, no que respeita às acumulações, ou do de Joseph Cornell, no que respeita às «caixas».
Graças à experiência adquirida na realização de serigrafias para a revista KWY, Castro faz impressões seguindo a mesma técnica e dispondo diretamente os objetos sobre seda pré-sensibilizada. Em 1962, trabalha sobre sombras, projetando silhuetas sobre a tela e conservando apenas o contorno desenhado. A artista realiza uma série de retratos de figuras da sua relação (Micheline Presle, obra que pertence à Coleção Berardo, Christo, Bertholo, Maurice Henry, Adami, Voss, Dimas Gamarra ou Elda Zanetti), mas também da Gioconda de Leonardo da Vinci ou da Odalisca, de Ingres. Por vezes, associa objetos reais à sombra projetada de outros objetos.
Lourdes Castro prossegue esse trabalho, em 1964, recortando as formas das sombras em placas de vidro acrílico transparente, serigrafado ou colorido, que sobrepõe, conferindo assim materialidade ao que a não tem. Abandona, então, definitivamente, a pintura.
Alguns anos mais tarde, dedica-se ao teatro de silhuetas, revisitando a tradição das sombras chinesas. Em colaboração com Manuel Zimbro, apresenta, a partir de 1973, diversos espetáculos de teatro de sombras: As Cinco Estações, em 1976, ou Linha do Horizonte, em 1981, próximos do happening. Durante o espetáculo, Castro é a sombra e Zimbro, a luz. Realiza tournées na América e na Europa, nomeadamente em Paris, no Musée d'art moderne de la ville de Paris – ARC2, no Théâtre d’Orsay Renaud-Barrault e no Festival d’Automne (1975, 1978).
Prossegue o seu trabalho, realizando, na Madeira, sombras de plantas (Grande Herbário de Sombras, iniciado em 1972), acumulações de pétalas (Montanha de Flores, 1988), e explorando os problemas da memória (Álbum de Família). Para a Bienal de São Paulo, em 2000, a artista concebe, juntamente com Pedro Tropa, a instalação A Peça. Na década de 1980, torna-se adepta da Mail Art.
Lourdes Castro expôs sem regularidade durante esses anos, como em 1959, nas bienais de São Paulo e de Paris, e em 1963, no Salon comparaisons [Salão comparações], em Paris. Realizou inúmeras exposições individuais, em 1965, em Munique, em 1966, em Baden-Baden e Paris (Galerie Édouard Loeb), em 1967, em Londres, Amesterdão e Malmö, em 1968, em Basileia e Hanover, em 1969, em Pádua, Milão, Essen, Colónia e Frankfurt. A sua obra foi distinguida em Portugal, em 2000, com o Grande Prémio EDP. Encontra-se retirada na Madeira, desde 1988.
AC