Arshile Gorky
Ano, local de nascimento 1902, Arménia
Ano, local de morte 1948, Estados Unidos
Os primeiros anos de vida de Arshile Gorky são extremamente duros e irão marcá-lo para sempre. O seu pai emigra para os Estados Unidos da América em 1906, a fim de escapar ao alistamento no exército turco. Em 1915, fugindo do genocídio, Gorky, então com onze anos de idade, caminha com a sua mãe e a sua irmã por mais de duzentos quilómetros até Erevan. A sua mãe morre durante a grande fome de 1919. Em 1920, com dezasseis anos, consegue emigrar para os Estados Unidos. Encontra o seu pai em Providence. Enquanto trabalha a lavar a loiça num restaurante, interessa-se pela arte, visita o Boston Museum of Fine Art, assiste a algumas aulas e frequenta episodicamente a School of Fine Art and Design. Estabelece-se em Nova Iorque em 1925. Considerando que um arménio não teria quaisquer hipóteses de ser reconhecido como artista, toma o pseudónimo de Gorky, fazendo-se mesmo passar por primo do escritor russo Máximo Gorki.
Frequenta a National Academy of Design. Após a sua formação, torna-se mesmo professor na New England School of Design. Mark Rothko será um dos seus alunos. Gorky é então bastante influenciado por pintores europeus como Paul Cézanne, Henry Matisse, Wassily Kadinsky, Pablo Picasso e, mais tarde, Joan Miró, e imita mesmo os dois últimos. Em 1930, Alfred H. Barr, quando preparava uma exposição para o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque, visita o seu atelier e escolhe três obras para a sua primeira participação numa exposição (46 Painters and Sculptors Under 36 Years of Age). Os críticos irão reencontrá-lo, pouco tempo depois, numa exposição intitulada Abstract Painting in America, no Whitney Museum of American Arts de Nova Iorque, em 1935. Gorky relaciona-se com numerosos jovens artistas nova-iorquinos como John Graham, Stuart Davis, David Smith, Frederick Kiesler e, mais tarde, Willem De Kooning. Como muitos outros, conhece a miséria durante a Grande Depressão e, em 1933, junta-se ao Public Works of Art Project, que ajuda os artistas confiando-lhes trabalhos, em particular na decoração de edifícios públicos. Abandonará a organização em 1940. Nessa altura, começa a expor (primeira exposição individual em 1934, na Mellon Gallery, em Filadélfia) e a receber algum reconhecimento, ainda que sem obter benefícios materiais. Pertence àquela jovem geração nova-iorquina marcada pelas suas raízes e contudo criadora de um espaço totalmente aberto, bem como de um estilo muito formal, hoje em dia considerados fundadores do expressionismo abstrato americano.
Os encontros com os surrealistas que desembarcam em Nova Iorque a partir de 1940 serão determinantes: primeiro Yves Tanguy, depois Max Ernst, André Masson, Roberto Matta e André Breton (em 1944, o entendimento entre o poeta e o pintor é imediato). Assiste a conferências sobre Miró, Matta, Tanguy e Ernst proferidas por Gordon Onslow-Ford na New School of Social Research. Se descobre, graças a estes, a necessidade de uma maior liberdade no trabalho, as influências permanecem – oscilando entre a arte de Matta e de Miró – ainda que não se possa falar de cópia. Depois, progressivamente, este herdeiro do estilo automático surrealista acha o seu próprio rumo, inventando uma linguagem que lhe é própria, a meio caminho entre a figuração onírica e a abstração lírica.
O seu casamento com Agnes Magruder, em 1944, corresponde a um período criativo muito importante. Prossegue a sua série Garden in Sochi [Jardim em Sochi] e cria obras como The Liver is the Cock's Comb [O fígado é a crista do galo], One Year the Milkweed [Um ano a leitaruga] e Waterfall [Cascata]. A sua inspiração vem das paisagens que rodeiam a casa de campo da sua mulher, no Connecticut, onde passa bastante tempo, e das recordações de infância, como testemunha a tradução dos títulos de algumas obras: As Águas do Moinho das Flores, O Avental da minha Mãe, Perfume de Damasco, Jardins em Khorgom, ou Agonia.
Em 1945, beneficia de uma primeira grande exposição individual na galeria de Julien Levy, em Nova Iorque. Breton escreve o prefácio, onde saúda toda a sua singularidade (texto reimpresso na edição seguinte de Surréalisme et la Peinture).
Porém, estes anos de felicidade, nos quais nascem dois filhos, dão lugar a uma série de tragédias. A crítica à sua exposição de 1945 não foi muito positiva e alguns consideram-no um mero seguidor da arte europeia. Em janeiro de 1946, o seu atelier incendeia-se e Gorky perde os trabalhos em curso. Um mês mais tarde, fica a saber que sofre de um cancro do cólon. Um exame médico deixa-o incapacitado. A 26 de junho de 1948, fica gravemente ferido num acidente de viação que lhe paralisa o braço com que pinta. Alguns dias depois, a sua mulher, que tem um caso com o seu amigo Matta, abandona-o. Despedaçado física e moralmente, Arshile Gorky enforca-se no dia 21 de julho. O Whitney Museum organizará uma retrospetiva em 1951.
AC