Victor Brauner
Ano, local de nascimento 1903, Roménia
Ano, local de morte 1966, França
Da sua infância dividida entre a Roménia e a Alemanha, Victor Brauner retém os motins camponeses na Moldávia, as sessões de espiritismo do seu pai, a que assiste em segredo, e o anúncio do fim do mundo provocado pela passagem do cometa Halley em 1910. Estuda na Escola de Belas-Artes de Bucareste entre 1919 e 1921, de onde é expulso em razão do não-academismo da sua pintura. Até 1930, participa nos movimentos de vanguarda em Bucareste, cria em 1924 uma revista dadaísta, 75 H.P. (na qual escreve o manifesto da «picto-poesia»), e colabora em revistas como Punct, Revue de l'art constructiviste e Integral. Numa primeira viagem a Paris, em 1925-1927, descobre Giorgio de Chirico e os surrealistas. Passa rapidamente de um «cubo-futurismo» a uma espécie de surrealismo, de que são testemunho as suas ilustrações da revista Unu.
Após instalar-se em Paris, em 1930, toma contacto com os surrealistas através dos seus vizinhos Yves Tanguy e Alberto Giacometti, e encontra os seus compatriotas Jacques Hérold, Benjamin Fondane e Constantin Brancusi. A sua vida é feita de miséria, partilhada com Tanguy, e de pequenos biscates para subsistir. Inicia uma série de quadros em torno do símbolo do olho enucleado (Autoportrait [Autorretrato], 1931). A sua adesão ao grupo surrealista tem lugar em 1933. Brauner seduz os surrealistas com imagens insólitas e obsessivas de figuras quiméricas que combinam diferentes reinos da natureza. Nas suas séries de Morphologies de Monsieur K [Morfologias do senhor K], pinta retratos de ditadores e denuncia a ascensão dos fascismos. Para André Breton, ele será «o artista mágico» por excelência. Em 1934, tem lugar a sua primeira exposição parisiense na Galerie Pierre, prefaciada pelo escritor. A sua participação nas atividades do grupo começa com a ilustração de Violette Nozières (1933).
A miséria recambia-o para o seu país natal. Inscreve-se no partido comunista clandestino da Roménia, o qual abandonará na altura dos processos de Moscovo. Após o seu regresso a Paris, em 1938, durante uma zaragata entre amigos surrealistas, quando tenta separar Óscar Domínguez e Esteban Francés, é atingido na cara por um copo que o priva definitivamente do seu olho esquerdo. Em referência ao seu autorretrato de 1931, este acidente surge como uma forma de azar objetivo e figura, doravante, como um dos altos feitos da história do surrealismo.
Após a derrota de 1940 e a ocupação parcial da França pelo exército alemão, Victor Brauner refugia-se com Jacques Hérold e Robert Rius em Canet-Plage. É colocado sob residência vigiada em Saint-Féliu-d'Amont. Dirige-se várias vezes a Marselha, na esperança de conseguir sair de França para os Estados Unidos através da carreira organizada por Varian Fry. Reencontra na Villa Air-Bel, em Marselha, Breton, Max Ernst, Wifredo Lam… Fracassada sucessivamente a sua partida, adquire documentos falsos e instala-se durante o tempo da guerra na região de Gap. A precariedade da sua vida força-o a adaptar-se e a utilizar os poucos materiais de que dispõe. Descobre, assim, o desenho com velas e depois a pintura a cera, matéria à qual atribui valor alquímico, até mesmo esotérico. Ao longo de toda a sua vida, Brauner aperfeiçoa a técnica e o seu uso, aliando a uma certa rusticidade do material um sumptuoso refinamento do tratamento da cor.
De regresso a Paris, em 1945, beneficia de uma segunda exposição individual na Galerie Pierre. Julien Levy apresenta as obras do pintor na sua galeria de Nova Iorque, em 1947, início do seu reconhecimento internacional. Nesse mesmo ano, figura na Exposition internationale du surréalisme [Exposição internacional do surrealismo], na Galerie Maeght, onde apresenta o seu ser-objeto Loup-table [Lobo-mesa]. Após esta exposição, abandona o grupo surrealista, recusando associar-se à expulsão de Roberto Matta em 1948. Ainda em 1948, estabelece-se na Suíça por razões de saúde e inquieta-se com a sorte reservada aos romenos em situação ilegal em França. Descobre então, com interesse, os trabalhos do doutor Séchehaye sobre a esquizofrenia. Regressa a França e divide o seu tempo entre a Normandia, Paris, o sul (em Vallauris, onde executa uma série de peças de cerâmica sob o caloroso incentivo de Pablo Picasso) e viagens em Itália e Espanha. Prossegue, até ao seu falecimento, com a exploração das mitologias. No ano da sua morte, foi eleito para representar França na Bienal de Veneza.
AC