Amadeo de Souza-Cardoso
Ano, local de nascimento 1887, Portugal
Ano, local de morte 1918, Portugal
Nascido no norte de Portugal, no seio de uma família de proprietários rurais em Manhufe, na freguesia de Mancelos, Amarante, Amadeo de Souza-Cardoso inicia os seus estudos na Universidade de Coimbra, mudando-se para Lisboa em 1905, a fim de estudar arquitetura na Academia de Belas-Artes. Consciente dos limites do ensino que recebe, decide mudar-se para Paris, no ano seguinte, para aí continuar os seus estudos nos ateliers de Jules Godefroy e Freynet, mas abandona-os rapidamente para se tornar pintor. Durante os oito anos que passa em Paris, instalado no bairro de Montparnasse, torna-se amigo de artistas como Alexander Archipenko, Umberto Boccioni, Constantin Brancusi, Juan Gris, Amedeo Modigliani, Sonia e Robert Delaunay, Otto Freundlich, Gino Severini ou Max Jacob. Em 1911, Modigliani expõe esculturas de cabeças e desenhos no atelier do seu amigo português na rue du Colonel Combes.
Amadeo de Souza-Cardoso começa por ser influenciado pelo estilo arte nova. Depois experimenta um estilo híbrido em que associa essas formas lineares ao cubismo e ao futurismo, utilizando linhas geométricas curvas. Nos seus desenhos, também se nota a influência de Modigliani. Tal como os seus amigos, Souza-Cardoso apaixona-se pela escultura africana. Do mesmo modo, entusiasma-se pelos cenários e trajes dos Ballets russes de Serguei Diaghilev, concebidos por Léon Bakst, Alexandre Benois, Alexander Golovine e Natalia Goncharova que, a partir de 1909, passam todos os anos por Paris, em tournée.
Em 1912 publica Dessin XX [Desenho XX], um portfólio – com prefácio de Jérôme Doucet – contendo vinte desenhos, de 1911-1912, inspirados pelo conto de Gustave Flaubert «A Lenda de São João Hospitaleiro». Este trabalho, que representa o culminar desse período, é apreciado pelo crítico Louis Vauxcelles. A partir de 1911, expõe no Salon des indépendants [Salão dos independentes] e, a partir do ano seguinte, no Salon d’Automne [Salão de outono]. Em 1913, expõe em Berlim, na Galerie Der Sturm (Salon d’Automne), e também em Nova Iorque, na exposição do Armory Show que ficará para a história. Começa a conhecer o sucesso com, por exemplo, a compra de três quadros seus pelo colecionador Arthur Jerome Eddy na inauguração desta exposição em Chicago (hoje parte da coleção do Art Institute de Chicago).
Durante esses anos parisienses, regressa todos os anos a Manhufe. Sinal de que o pintor tenta ligar as suas duas culturas, um autorretrato de 1913 mostra-o como um «verdadeiro» parisiense, usando a boina, mas posando diante de uma paisagem portuguesa.
Depois do trabalho em tinta-da-china para a realização do portfólio, Souza-Cardoso lança-se na cor. Está, por isso, mais próximo do orfismo de Robert Delaunay que do cubismo analítico de Pablo Picasso e Georges Braque.
Quando a guerra é declarada, na primavera de 1914, encontra-se na sua propriedade em Portugal onde permanecerá durante os quatro anos do conflito. Longe de Paris, mas inspirado pelas paisagens à sua volta, continua as suas experiências, em particular com séries de aguarelas de cores intensas e expressionistas que apelida de Cabeças oceano (1915-1916). As suas obras mais importantes datam dessa época. Tenta uma espécie de aliança entre cubismo, futurismo, cubo-futurismo russo e expressionismo, explorando sempre soluções novas.
Entre 1914 e 1918, continua a dar-se com Robert e Sonia Delaunay, com quem frequentava as soirées de domingo em 1913. O casal, apanhado de surpresa pela declaração de guerra em Fontarabie, exila-se em Espanha e depois em Portugal. A partir do verão de 1915 e até ao fim de 1917, moram em Vila do Conde. Com eles, Souza Cardoso monta projetos de exposições e de livros ilustrados que não chegarão a ser concretizados. Certas obras, como Jouet portugais [Brinquedo português], 1915, de Sonia Delaunay, são próximas das suas e das do seu amigo comum, o português Eduardo Viana. Em 1916, Amadeo de Souza-Cardoso expõe em Lisboa cento e catorze pinturas, reunidas sob o título «Abstrações», que farão escândalo.
Em 1918, falece vítima da gripe espanhola, com apenas trinta anos. A sua morte prematura, a sua situação marginal em Portugal, bem como o contexto político vivido em Portugal durante várias décadas, contribuíram para um certo esquecimento. O primeiro reconhecimento data de 1953, quando o Museu Municipal de Amarante lhe dedica uma sala. Na década de 1980, a maioria das obras pertencendo a particulares foi adquirida pela Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa. Existem muito poucas obras fora de Portugal. Uma retrospetiva importante, organizada em Washington, Chicago e Nova Iorque, em 1999-2000, permitiu descobrir este pintor talentoso e original, no cruzamento de todas as vanguardas europeias, que infelizmente não pôde oferecer ao mundo todo o valor da sua arte.
AC