Wasting my Time with You #928
Data 1991
Técnica Técnica mista sobre tela
Dimensões 290 x 407.5 cm
ID Inventário UID 102-515
Esta pintura une duas secções que se opõem e complementam. Na negra – que remete para a noite – estão representadas, de forma diagramática, quatro ripas de uma cerca (que podem ser lidas como elementos que delimitam e cerceiam um território doméstico). Na secção branca – que convoca o dia e a luz –, alguém alarga a cintura de uma saia – talvez sejam calças –, para espreitar ou dar a ver a alguém (que não nós) a suas partes íntimas. A extremidade de um cotovelo aproxima-se perigosamente do vértice de um degrau (uma sugestão de violência latente). Outros fragmentos sugerem vegetação, podendo apontar para a ideia de jardim. E dois pontos negros, semelhantes às tatuagens dos presidiários, invocam a ideia da pintura como pele onde são inscritos vestígios, sinais, como marcas indeléveis que transportamos connosco e que não podem ser escondidos.
A partir de 1990, Julião Sarmento inicia o seu longo ciclo das Pinturas Brancas. Em telas de grande dimensão, com um fundo branco impuro de textura granulada e arenosa, emergem figuras e objetos rasurados e refeitos. Um processo de «ensaio-e-erro», tradicionalmente atribuído ao desenho, é agora plenamente assumido pela pintura. Esta tensão, entre desenho e pintura, traduz a natureza simultaneamente concetual e matérica das figurações de Sarmento. O artista atesta a natureza «espetral» e «virtual» da imagem, em razão de ser justamente essa a condição que define a «mulher ideal»; portanto, não o objeto de desejo, mas a sua ideia. A ausência da cabeça da figura feminina (ainda que ambígua quanto ao género) reforça a sua condição de entidade genérica, arquetípica.
Sarmento exorta o espectador a compor mentalmente um «desenho» ainda em processo. Quer que comecemos a supor e a deslindar, completando ou dando corpo, imaginariamente, a histórias e figuras a que não temos acesso integral.
É a partir de um território íntimo e pessoal que Julião Sarmento trabalha. Desse modo, enquanto voyeur que penetra ilicitamente num universo, o espectador depara-se com o produto de alguém que se encontra escravizado num trabalho passional, ou da «paixão», retido na tentativa, sempre diferida e impossível, de materializar a imagem definitiva e absoluta do seu objeto de desejo.
Bruno Marques
A partir de 1990, Julião Sarmento inicia o seu longo ciclo das Pinturas Brancas. Em telas de grande dimensão, com um fundo branco impuro de textura granulada e arenosa, emergem figuras e objetos rasurados e refeitos. Um processo de «ensaio-e-erro», tradicionalmente atribuído ao desenho, é agora plenamente assumido pela pintura. Esta tensão, entre desenho e pintura, traduz a natureza simultaneamente concetual e matérica das figurações de Sarmento. O artista atesta a natureza «espetral» e «virtual» da imagem, em razão de ser justamente essa a condição que define a «mulher ideal»; portanto, não o objeto de desejo, mas a sua ideia. A ausência da cabeça da figura feminina (ainda que ambígua quanto ao género) reforça a sua condição de entidade genérica, arquetípica.
Sarmento exorta o espectador a compor mentalmente um «desenho» ainda em processo. Quer que comecemos a supor e a deslindar, completando ou dando corpo, imaginariamente, a histórias e figuras a que não temos acesso integral.
É a partir de um território íntimo e pessoal que Julião Sarmento trabalha. Desse modo, enquanto voyeur que penetra ilicitamente num universo, o espectador depara-se com o produto de alguém que se encontra escravizado num trabalho passional, ou da «paixão», retido na tentativa, sempre diferida e impossível, de materializar a imagem definitiva e absoluta do seu objeto de desejo.
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