Objetos catalizadores no cinema de Pedro Costa
Objetos catalizadores no cinema de Pedro Costa
Orador: Júlio Alves
O ponto de partida desta conferência é o filme Sacavém, de 2019. Sacavém é um filme sobre cinco outros filmes do cineasta Pedro Costa: Casa da Lava, Ossos, No Quarto da Vanda, Juventude em Marcha e Cavalo Dinheiro. Não é um documentário sobre Pedro Costa nem uma apresentação da sua filmografia. É uma viagem ao cinema de Pedro Costa, à sua estrutura, ao modo como é concebido e sentido, como é construído, para usar uma palavra que o realizador gosta de usar para se referir ao seu trabalho no cinema.
Sacavém resulta de conversas longas entre mim e o Pedro Costa, bem como de imagens e sons daqueles cinco filmes. Todo o material foi sujeito a uma seleção, e este corpus, por seu turno, foi reinterpretado, refilmado, retratado de tal modo, que se constitui como uma espécie de prolongamento ou alargamento das obras mencionadas.
Sacavém constitui-se, assim, como um trabalho de anatomia desse corpo fílmico, sujeito a uma operação de dissecação que comporta, por exemplo, novos deslocamentos entre imagens e sons — sem que nunca, contudo, abandonem a sua matriz. Neste sentido, Sacavém é uma viagem ao cinema de Pedro Costa, que se autodefine como «um realizador que não imagina».
Este é um itinerário cuja unidade é marcada por uma sonoridade cabo-verdiana, captada por Pedro Costa e o seu amigo Olivier Varenne naquele país africano, bem como por excertos da banda sonora dos cinco filmes mencionados, presentes logo no início de Sacavém. Aqui, também podem ouvir-se referências a Sacavém, terra sobre a qual alguém diz: «Eu quero morrer em Sacavém.» Para lá deste «cimento» aglutinador que é banda sonora, a sua unidade é também construída a partir da voz off de Pedro Costa, que vai pontuando Sacavém durante o seu desenrolar. Um terceiro elemento agregador que constrói este filme é um conjunto forte de objetos que marcam as cinco obras: um caderno, Cartas, uma câmara digital, uma cópia de 35 mm e um elevador.
O «peso» destes objetos está bem patente em Sacavém. Trata-se de um caderno de colagens de imagens e textos que substitui o guião e que institui a vizinhança e a montagem como processo criativo. Igualmente, dá-se a descoberta de um digital recente em Portugal através das handycams, câmaras de cassetes MiniDV, muito pequenas, que, embora com um digital muito rudimentar, constituíram a resposta de que Pedro Costa necessitava em relação à crise do cinema que o assaltou na segunda metade da década de '90 e que o leva agora a dizer: «(Os filmes que é preciso fazer) são lentos, são longos. Dão muito trabalho, precisam de muita energia para serem consequentes, para serem ricos, interessantes e bem feitos. Mas há outros que é preciso matar à nascença.» Além disto, existe uma sequência já amplamente identificada pelos cinéfilos como «monstruosa» ou «incrível»: a sequência do elevador em Cavalo Dinheiro. Todos estes elementos foram selecionados e são revisitados em Sacavém.
Júlio Alves (Lisboa, 1971).
Desde muito novo, começou a trabalhar em cinema. Foi assistente de produção e de realização em diversas produções cinematográficas de países como Portugal, França e Espanha. Destaca-se Afirma Pereira, de Roberto Faenza com Marcello Mastroianni. A sua filmografia conta com 13 títulos de géneros e durações diferentes. Todos os seus filmes foram exibidos em festivais nacionais e internacionais. Realizou filmes publicitários para as principais marcas nacionais e internacionais em diferentes mercados europeus. Atualmente, encontra-se a finalizar o doutoramento em Ciências da Comunicação da Universidade Lusófona de Lisboa com a tese Cinema e Objetos. Da tese, fazem parte três filmes: Objetos Entre Nós, Casa Encantada e Sacavém.
Filmografia
ARTE DE MORRER LONGE (2020), em pós-produção; SACAVÉM (2019); OBJECTOS ENTRE NÓS (2018); CASA ENCANTADA (2018); CASA MANUEL VIEIRA (2013); O REGRESSO (2012); A CASA (2012); 42,195 Km (2010); O JOGO (2010); OSSUDO (2007); ALFERES (2000); O DESPERTADOR (1996); A FACHADA (1995).
Conferência apresentada no âmbito do IX Ciclo de Conferências Internacionais sobre A Constelação do Planetário, organizado pela Escola de Comunicação, Artes e Tecnologias de Informação da Univ. Lusófona, em conjunto com o Museu Coleção Berardo
Quarta-feira, 29 de maio, 18h00. Auditório do Museu. Entrada gratuita, sujeita ao número de lugares disponíveis.
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