Algumas Obras a Ler. Coleção Eric Fabre
Como visitar esta exposição? Colocamo-nos no papel do «leitor ocasional [...] desencorajado de prosseguir com a leitura» do colectivo Art & Language.
Esta exposição foi concebida como uma conversa, à maneira de Isidore Isou (Botosani, Roménia, 1925 – Paris, 2007) que aparecia, para um primeiro encontro, acompanhado pela sua «pasta-matriz», abrindo-a, retirando dela obras que lhe diziam respeito e forçando o interlocutor a lê-las antes de iniciar qualquer conversa.
Várias das peças apresentadas, que vão do letrismo de Isou às pesquisas do grupo Art & Language, passando por Joseph Kosuth (Toledo, Ohio, 1945), funcionam com base na paródia, na ironia. As «pinturas descritas» de Gil Joseph Wolman (Paris, 1929-1995) disso são testemunha: são o «aqui começa a insuficiência da pintura». No seu Index: Wrongs Healed in Official Hope (1998), os Art & Language montam uma operação de sabotagem. Os «monosignos» de Isou imitam a pintura gestual abstracta. Encontramo-los em Grand panneau à Comparaisons ou Proposition Manifeste d’espace hypergraphique Lettriste (1961), um quadro em doze elementos.
Imaginemos então um visitante, seguindo o percurso da visita, observando cada obra, uma após outra. Pouco a pouco, o olhar embota-se e a atenção começa a falhar. Será necessário adoptar outro comportamento, deambular pela exposição até ser verdadeiramente arrebatado por uma obra. Será a obra que o escolherá a ele, e não ele que escolherá a obra. Assim, esta será uma visita sem qualquer a priori, sem qualquer escolha preferencial: nem a cor, nem a composição, nem o suporte, nem mesmo o nome do artista o influenciam. A obra terá vindo ao seu encontro.
Os artistas presentes nesta exposição têm em comum o seu modo de trabalhar, em torno da teoria. Assim o comprovam obras como Soulèvement de la Jeunesse, publicada por Isou em 1949, L’Homme séparé (1979) de Wolman, Situational Aesthetics (1969) de Victor Burgin (Sheffield, 1941), Tractatus Post-historicus (1976) de Braco Dimitrijevic (Sarajevo, 1948), ou Art After Philosophy (1969) de Kosuth. Ou ainda todo o projecto de Art & Language dedicado a «um deslocamento do interesse da ‘arte como ideias’, que são subjectivas, para uma ‘arte da linguagem’ que é intersubjectiva e se constrói sobre uma base socialmente institucionalizada».
Mas como mostrá-lo? De onde surge a importante questão do texto mural? Técnica bem conhecida de Lawrence Weiner (Bronx, Nova Iorque, 1942). As posturas de Art & Language e de Isou aproximam-se da ideia de que o texto mural pintado não constitui uma categoria artística fixa e definitiva. Art & Language insiste no facto de que o quadro-texto nasceu a partir de conversas. O quadro-texto deve conservar o seu aspecto dialógico e ficcional. Texto enquanto obra de arte ou texto literário: os artistas esforçam-se por jogar em dois tabuleiros. O uso exige que folheemos as páginas de um livro para o ler, pousado sobre uma mesa, e não colocado na parede como um quadro. E é desta forma que este colectivo, nos seus «blocos de notas», propõe esquemas gráficos sobre as duas páginas de uma mesma folha. Colocamos o vulgar nos índices no final de um livro, o que não impede Art & Language e Wolman de os utilizar numa obra de arte. Os procedimentos da edição e os procedimentos das artes plásticas entrecruzam-se.
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Museu Coleção Berardo
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