BES Photo 2013

BES Photo 2013
Exposição temporária
Autor(es): 
Albano Silva Pereira
Filipe Branquinho
Pedro Motta
Sofia Borges
17/04/2013
- 02/06/2013
Piso: 
0
BES Photo 2013
Exposição temporária
Autor(es): 
Albano Silva Pereira
Filipe Branquinho
Pedro Motta
Sofia Borges
17/04/2013
- 02/06/2013
Piso: 
0
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É hoje impossível falar na divulgação das práticas fotográficas sem associar o Banco Espírito Santo e o papel fulcral da sua atividade neste domínio. Através deste relevante prémio, que tem homenageado e consagrado muitos dos seus protagonistas mais significativos, e da importante coleção de fotografia contemporânea internacional, que tem vindo a organizar, muito se alterou no contexto português, ao longo dos últimos anos. Para o Museu Coleção Berardo, participar neste projeto tem constituído motivo de valorização e dinamização do seu programa.
Desde a sua primeira edição em 2004, o BES Photo afirmou-se como um dos mais prestigiantes prémios de arte contemporânea atribuídos a artistas de nacionalidade portuguesa e, a partir de 2011, dos restantes países lusófonos, ganhando notoriedade pela qualidade dos trabalhos expostos e projetando-se por mérito dos artistas premiados nas edições anteriores – Helena Almeida, José Luís Neto, Daniel Blaufuks, Miguel Soares, Edgar Martins, Filipa César, Manuela Marques e Mauro Pinto.
Um júri internacional de seleção, composto por Bisi Silva, Delfim Sardo e Agnaldo Farias, propôs para a exposição e prémio de 2013 os artistas Albano Silva Pereira (Portugal), Filipe Branquinho (Moçambique), Pedro Motta e Sofia Borges (ambos do Brasil).
Os trabalhos destes artistas, que aqui se apresentam até dia 2 de junho, serão avaliados por um júri de premiação, também internacional, constituído pelo escritor Geoff Dyer, o professor Luc Sante e a crítica de arte Rosa Olivares. O vencedor da nona edição do BES Photo, anunciado no dia 7 de maio, foi Pedro Motta.
Neste ano de 2013 um novo e importante parceiro junta-se ao projeto, o Instituto Tomie Ohtake, que apresentará a exposição em São Paulo, a partir de 18 de junho.

Pedro Lapa
Diretor Artístico

 

Albano Silva Pereira
(Portugal, 1950)

«[…] não acredito na verdade pura. O preto e branco dá-me a ficção e a poesia. E, por outro lado, a luz. Sou um fotógrafo. A luz é para mim imprescindível: seja brutal e violenta no deserto, seja na sombra ou na escuridão interior de um acampamento – não uso o flash. O lado perfeccionista e pretensamente conceptual da plasticidade e construção do objecto não me interessa. Sou um fotógrafo seduzido sobretudo pela luz que é, talvez, o elemento mais importante das minhas fotografias. Não me interessa encenar. A única manipulação que faço é a do preto e branco. Interessa-me mais a verdade poética do que a pretensa verdade realista – prefiro uma verdade simbólica. Não me interessa a realidade naïf, básica e primária. A fotografia é uma outra realidade: a partir do momento em que escolhes uma máquina, uma óptica, um formato, em que escolhes os papéis e os tons de preto e branco... O artista é aquele que manipula os registos, não quero diluir-me numa pretensa verdade. É só a verdade do meu olhar, a minha interpretação. A minha procura é aquilo que apresento do meu confronto e diálogo com o mundo. Não pretendo filtros decorativos nem plásticos. O artista tem de ter como elemento fundamental que a arte é sempre simbólica, não se trata de expor fielmente uma determinada realidade.»

 

Filipe Branquinho
(Moçambique, 1977)

«A ideia de Showtime partiu do livro Pão Nosso de Cada Noite, do Ricardo Rangel, fotografado na Rua Araújo, a chamada “Rua do Pecado”, e de alguns nus do José Cabral […]. A partir dessas imagens comecei por desenhar uma ilustração, e em seguida isso deu-me vontade de fotografar. Vontade de fotografar mulheres como o José Cabral as fotografa, mas num cenário do Ricardo Rangel. Comecei a pensar nisso em 2006 ou 2007, quando voltei do Brasil. Entretanto, estive a trabalhar em arquitetura e só agora, que decidi dedicar-me a tempo inteiro à fotografia, consegui arranjar tempo para concretizar a ideia. […]
Ao contrário do Ricardo Rangel, que fotografou muito a rua, os bares, eu queria entrar um bocado mais adentro, entrar onde isso acaba, os quartos de hotéis que já existiam no tempo do Rangel, há meio século, e que curiosamente ainda lá estão. Comecei por lá ir para conhecer o cenário, para saber como era, a pensar como poderia fotografar aquilo pegando nas visões do Rangel e do Cabral mas fugindo delas. Visitei os hotéis, conversei com os donos e vi os quartos. Descobri que no Hotel Central, seis dos quinze ou vinte quartos são alugados à hora, a duzentos meticais [cinco euros aproximadamente]. Chamam “showtime” a esses quartos para onde as prostitutas levam os clientes, de dia ou à noite. Resolvi fotografar as mulheres da rua de Bagamoyo nos quartos que frequentam. Cada cliente tem a sua fantasia, e eu, como cliente, paguei os quartos e as mulheres para poder estar lá, e a minha fantasia foi fotografá-las. [...]»

 

Pedro Motta
(Brasil, 1977)

«[…] Acho que de certa forma sou um escultor frustrado, pois poderia ter realizado alguma dessas intervenções, como a dos blocos de terra, depois fotografando-as. Achar essas “coisas” é um exercício também. Muitas delas conheço há anos e durante meus deslocamentos (entre cidades) inevitavelmente passo por elas. Acredito que vou formando uma certa geografia afetiva para depois registá-las. Com os trabalhos mais recentes a vontade de desvirtuar a ordem das coisas foi crescendo. Assim o desenho alinhavou uma vontade com a possibilidade infinita de construção de uma nova geografia afetiva. Posso dizer que seria também uma geografia fictícia em que a base da vida quotidiana do campo vai sendo modificada, primeiro pela mão do homem e segundo por desordem e criação do artista. […] A escultura está cada vez mais presente no meu trabalho. Quando comecei a fotografar, tinha uma outra relação com a fotografia, algo ainda muito ligado ao documental, à cultura fotográfica, ao referencial e de certa forma aos fotógrafos dos anos de 1960-1970 (Robert Frank, Ed Ruscha, Josef Koudelka...). Atualmente, penso a fotografia como uma forma de concretizar um trabalho pré-concebido. Acredito que em um determinado momento posso realmente conceber e materializar uma ideia e depois registá-la, usando a fotografia somente como um suporte de apresentação. Neste aspeto, posso dizer que as esculturas do Carl Andre foram muito importantes para mim. Principalmente na questão formal do trabalho. […]»

 

Sofia Borges
(Brasil, 1984)

«Os Nomes é o resultado de uma ida ao Museu de Paleontologia de Paris onde fiz cerca de 600 fotografias, das quais eu apresento nove nesta exposição que terá, no máximo, dez fotografias, todas em grande escala. A única exceção do grupo é a foto Coruja, que fiz em 2010 no Museu de Zoologia em São Paulo, todas as demais são fotografias feitas em 2012, num mesmo dia neste museu em Paris. […] Na minha opinião, algumas dessas imagens são tão estranhas que chegam a se perder num limbo entre abstração e figuração, são objetos indecifráveis ao mesmo tempo que tão ilustrativos e também matéricos. […]
E por mais que haja questões já bastante claras em relação ao que me interessa em cada uma das dez imagens que escolhi para compor Os Nomes, ainda me é difícil falar desses trabalhos no seu conjunto. Precisamente porque considero que esta será a exposição onde eu vou conseguir falar com maior precisão sobre o que é uma fotografia; ao mesmo tempo que pressinto que nada conseguirá atingir a sua meta completamente. Por se tratarem de imagens estranhas demais acho que estarão sempre interrompidas pela própria contundência da sua presença, as imagens transbordam, ultrapassam, derramam, são alienígenas, não parecem conter história nem forma definitiva. Os Nomes, o título, define para mim a tentativa de nomear algo que não se define, que é, no caso, como eu entendo uma fotografia.»

 

Excertos das entrevistas publicadas no catálogo da exposição.