Constelações: uma coreografia de gestos mínimos
"Não se deve dizer que o passado ilumina o presente ou que o presente ilumina o passado. Uma imagem, ao contrário, é aquilo em que o Outrora encontra, num relâmpago, o Agora, para formar uma constelação". (Walter Benjamin)
As denominações que utilizamos para as diferentes constelações estão imbuídas de história, tradição e mito. Enquanto aglomerações imaginárias de estrelas, sempre foram alvo do fascínio do homem. Este, perplexo com aquilo que o rodeia, comprometeu-se a decifrar as suas próprias origens com base num espaço mítico e cosmogónico atravessado por intenções sobre-humanas — um espaço ilimitado —, acomodando também as vontades antagónicas dos deuses. Fascinado desde tempos remotos com a esfera celeste que é o seu planeta, e instigado pela demanda investigatória do seu olhar, as estrelas e as constelações surgiram nos mapas e nos mitos sob a forma de narrativas e signos vários. Nessas marcas luminosas aparecidas no céu, o espírito do homem encontrou índices misteriosos acerca do universo, da vida e da humanidade. Este é o território no qual a constelação surge primeiramente, entre as estrelas fixas com o dom da imortalidade e uma permanente lembrança de destinos coletivos e individuais.
Walter Benjamin propôs notoriamente no prólogo epistemológico-crítico de A Origem do Drama Trágico Alemão (1928) que as ideias estão para os objetos como as constelações estão para as estrelas. Ou seja, as ideias não se encontram realmente presentes no mundo mais do que as constelações realmente existem nos céus. De alguma forma, a obra de arte é uma poderosa metáfora da constelação.
O objetivo desta exposição é trabalhar a Coleção Berardo como um território horizontal para a curadoria investigativa. Nesta investigação, surgem «cortes» verticais — incisões na sua estabilização permanente — que encetam relações mais ou menos aproximadas no tempo e no espaço. Adotando uma postura anacrónica que mergulha subtilmente nos diferentes núcleos, tenta-se olhar e altivar os distintos tempos históricos através da sua influência sobre as produções artísticas contemporâneas.
A exposição desenvolve-se a partir de um núcleo central de obras no qual a visualidade da forma constelar é trabalhada de maneira mais evidente, sendo depois desenhado um fluxo de intervenções que perpassa pelos restantes núcleos da Coleção Berardo, numa linha narrativa desprendida (e conceptual) em torno do conceito filosófico de constelação. O espaço do Museu torna-se um espaço de experimentação, resultado de uma «coreografia» de processos de pensamento. O intuito é fornecer uma representação conceptual de um modelo de investigação para a coleção que se encontre em constante evolução e que se abra a um horizonte especulativo e poético.
Curadoria de Ana Rito & Hugo Barata.
Inauguração: 10 de abril 2019, 19h00
Exposição patente até 22 de setembro.
Constelações: uma coreografia de gestos mínimos tem obras de: Michaël Borremans, Edgar Martins, Hans Richter, Valie Export, Anthony Ramos, Vito Acconci, António Olaio, João Tabarra, Francisco Vidal, Rui Miguel Leitão Ferreira, Nicolás Paris, Suzan Pitt, Tris Vonna Michell, Elena Damani, David Maljkovic, Haris Epaminonda & Daniel Gustav Cramer, Carla Rebelo, João Seguro, Fernão Cruz, Ana Pérez-Quiroga, Miguelangelo Veiga, Rui Calçada Bastos, Pedro Pousada, Nuno Sousa Vieira, Os Espacialistas, Diogo Evangelista, Rui Toscano, Diogo Pimentão, João Onofre, Louise Lawler, Lawrence Weiner, Felix González-Torres, Gabriel Orozco, Fernanda Fragateiro, Aby Warburg, Alighiero Boetti, Lucio Fontana, Juan Muñoz, Thomas Ruff, Andre Breton, Tristan Tzara, Valentine Hugo, Greta Knutson, Kazimir Malevich, Henri Michaux, Dennis Oppenheim, Piero Manzoni e Eillen Agar.
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Museu Coleção Berardo
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