Da solidão do lugar a um horizonte de fugas
Com a modernidade as práticas artísticas visuais preteriram o recurso a uma função mnemónica como modo particular e singular de estruturar uma experiência coletiva. A história, a narrativa, o documento, o comentário tornaram-se formas proscritas e a amnésia resultante desse posicionamento redundou numa instrumentalização cultural que apenas conhece o presente. A exclusão destes aspetos, operada pelo modernismo a partir de uma pesquisa centrada sobre as suas caraterísticas espaciais, entendidas como revelação da essencialidade do próprio objeto artístico, procurou dotá-lo de uma especificidade no quadro geral da produção industrial. Apesar da importante conquista de uma autonomia artística daí resultante, o objeto artístico tornou-se coextensivo aos outros objetos do mundo e, como tal, também ele sujeito à instrumentalização mercantil. No entanto, o seu lugar no quadro da produção industrializada constituiu-se como um fetiche, que assim atualizou a sua antiga aura.
Recentemente, muitos artistas têm vindo a interrogar a amnésia a que o objeto artístico foi votado de forma a perscrutar no exercício memorial outras possibilidades para a experiência e para o exercício da própria subjetividade crítica. Neste sentido, a dimensão mnemónica torna-se extensiva aos conflitos e lugares onde a reportagem ou a história se suspendem ou repõem as categorias expetáveis. Ao reclamar para o campo artístico o exercício de uma mnemónica coletiva, o trabalho destes artistas devolve a imagem e a palavra enquanto produção de uma identidade específica do objeto artístico e da vida diferentes de qualquer forma privilegiada de experiência.
As tensões geradas pelos espaços de confinamento político, histórico e cultural, que se cruzam com as nossas vidas quotidianas, são rearticuladas pela discursividade que estes trabalhos apresentam e suscitam. Como círculos dentro de círculos, sem horizontes ou exterioridade, onde o viver contemporâneo se consome num subúrbio planetário, as situações construídas reportam realidades que não têm parado de assolar as condições da produção das artes visuais nas duas últimas décadas. No fundo, estes artistas procuram delinear a emergência das singularidades conflituantes com o torpor provocado pela indiferença ou amnésia das novas sociedades. O recurso à linguagem documental, à provocação da densidade ideológica do simples objeto, quase neutro, ao desconhecimento ou reinterpretação das imagens que atravessam diferentes territórios constituem uma parte significativa do material destas ficções com que olhamos o mundo.
A exposição reuniu um diversificado conjunto de trabalhos de artistas portugueses e estrangeiros com representação no Museu Coleção Berardo e também na coleção da Direção-Geral das Artes, e no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.
Desta exposição fez parte a mesa-redonda «Arte e Memória Coletiva», realizada no dia 22 de janeiro de 2013, que contou com as participações de Ângela Ferreira, Irene Pimentel, Mariana Pinto dos Santos, David Santos, Augusto Alves da Silva e Pedro Lapa (moderador), de forma a expandir as questões levantadas pela exposição para um domínio participativo e reflexivo.
Artistas:
Caetano Dias
Eugenio Dittborn
Jimmie Durham
Ângela Ferreira
Entertainment Co.
Douglas Gordon
Manuel Ocampo
Miguel Palma
Augusto Alves da Silva
João Tabarra
Justine Triet
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Museu Coleção Berardo
1449-003 Lisboa, Portugal
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(Chamada para a rede fixa nacional) www.museuberardo.pt