Édipo e a Esfinge
Numa paisagem rochosa, Édipo, Οἰδίπους – cujo significado literal em grego é «pés inchados», – encontra-se nu, defronte da esfinge (a que curio- samente em francês e inglês é atribuído o género masculino, enquanto que na língua portuguesa, como no italiano, é dada preferência ao género feminino). Este monstro, com rosto e busto de mulher, corpo de leão e asas de pássaro encontra-se à sombra de uma gruta. Édipo apresenta a solução ao enigma que a esfinge lhe colocara. «Qual é o ser dotado de voz que anda com quatro patas de manhã, duas ao meio dia e três ao anoitecer?», Édipo responde que se trata do homem porque, enquanto criança, gatinha com todos os seus membros, em adulto anda com as duas pernas, e chegando a velho com a ajuda de uma bengala.
Em 1808, esta história foi objeto do trabalho de Jean-auguste Dominique Ingres, então artista pensionário na Villa Medici, em Roma. Com efeito, os artistas, pagos pelo governo francês, tinham como obrigação realizar obras e «enviá-las de Roma». Em 1827, Ingres retoma esta tela. amplia-a em três dos seus lados para aumentar a figura da esfinge e adicionar a imagem do companheiro do viajante, em segundo plano, e o estranho pé em baixo, à esquerda. O estudo académico tornou-se num quadro histórico, e foi doado ao Museu do Louvre, passando a fazer parte da sua coleção. Existem outras duas versões, uma delas conservada em Londres.
Em 1983, Francis Bacon, cuja obra se alimentou das obras de artistas clássicos, como Velázquez, reinterpreta a composição. «Édipo deixa de ocupar o centro da pintura, como em Ingres, sendo empurrado para a margem direita, e apenas uma parte permanece visível num centro que, de outro modo, permanece vazio: uma coxa e um pé, abundantemente envolvidos em ligaduras e exibindo duas feridas profundas e sangrentas. Enquanto que em Ingres Édipo domina, ocupando o centro, manipulando a esfinge com segurança, Bacon transforma o vencedor em perdedor» escreveu o crítico David Sylvester (Entrevistas com Bacon).
«A Figura é dissipada ao realizar a profecia: tu não serás mais do que areia [...]. A areia poderia mesmo reconstituir a esfinge, mas é tão friável e tão pastel que pressentimos o mundo das Figuras profundamente ameaçado por esta nova potência.»
Gilles Deleuze, Francis Bacon, Logique de la sensation, éditions de la Différence, Paris, 1981 (tradução livre do original francês)
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