Hélio Oiticica. museu é o mundo

Hélio Oiticica. museu é o mundo
Exposição temporária
21/09/2012
- 06/01/2013
Piso: 
0
Curadoria: 
Fernando Cocchiarale
César Oiticica Filho
Hélio Oiticica. museu é o mundo
Exposição temporária
21/09/2012
- 06/01/2013
Piso: 
0
Curadoria: 
Fernando Cocchiarale
César Oiticica Filho
Corpo de texto: 

Poucos artistas refletiram sobre o seu trabalho com a clareza e a acuidade de Hélio Oiticica. Todas as questões que emergiram ao longo do seu processo experimental, iniciado no limiar da dissolução do Grupo Frente (núcleo do concretismo carioca), em 1958, estão registadas em anotações, textos, entrevistas, depoimentos e cartas. Em entrevista concedida ao Jornal do Brasil em maio 1961 ele declara: “Acho importantíssimo que os artistas dêem o seu próprio testemunho sobre sua experiência. A tendência do artista é ser cada vez mais consciente do que faz. É mais fácil penetrar o pensamento do artista quando ele deixa um testemunho verbal de seu processo criador. Sinto-me sempre impelido a fazer anotações sobre todos os pontos essenciais do meu trabalho".

No caso específico de Oiticica, podemos afirmar que obra e testemunho estão a tal ponto entrecruzados que é impossível separá-los sem incorrer em prejuízo para ambos, pois são fundamentais para sua qualificação como artista seminal da vanguarda brasileira dos anos de 1950, 1960 e 1970.

A trajetória poética de Oiticica desloca-se da fatura impecável, quase assética, da sua produção inicial, marcada pelo “construtivismo” internacional, para um “construtivismo favelar”. Essa chegada ao Brasil pela via universalista da invenção formal “concreta” e “neoconcreta” consuma-se quando o escultor Jackson Ribeiro o leva ao Morro da Mangueira, no Rio de Janeiro. “Tudo começou com a formulação do Parangolé em 1964, com toda a minha experiência com o samba, com descoberta dos morros, da arquitetura orgânica das favelas cariocas (e consequentemente outras, como as palafitas do Amazonas) e principalmente as construções espontâneas, anônimas, nos grandes centros urbanos – a arte das ruas, das coisas inacabadas, dos terrenos baldios, etc. Parangolé foi o início, a semente, se bem que ainda num plano de idéias Universalista (volta ao mito, incorporação sensorial etc.), da conceituação da Nova Objetividade e da Tropicália”.

Ele, portanto, chega à Tropicália por meio de um processo que se inicia no “quadro” convencional da pintura ocidental, mas que progressivamente desconstrói em direção a uma experiência brasileira. Essa transformação não se dá, porém, numa esfera ilustrativa ou representacional. Ela não significa uma mudança temática, mas uma mudança política fundada na participação do “espectador”.

A estratégia de oposição de Hélio Oiticica à arte e à sociedade burguesas não se inscreve, no entanto, na tradição libertário-messiânica de teor marxista de grande penetração na América Latina do período, mas na oposição anarco-romântica e na tradição libertina, voltadas para a revolução comportamental individual. Talvez por causa disso tenha salvado sua obra da ilustração temático-social na qual muitos artistas da esquerda naufragaram.

Hélio Oiticica. museu é o mundo transborda os limites expositivos do Museu Coleção Berardo. Com obras espalhadas pelo exterior do edifício, a exposição coloca o público em contato direto com a ideia do “Delirium Ambulatório”, forma usada por Hélio para despertar nele mesmo o estado de criação latente. A sua aspiração maior a partir dos Penetráveis (que começam com o Projeto Cães de Caça e vão até o fim de sua produção) era que fossem como espaços abertos e cósmicos, onde o indivíduo crie suas próprias sensações sem condicionamentos históricos ou visuais, ou seja, que encontre dentro de si mesmo a chave para um “Exercício Experimental de Liberdade”, como propunha Mário Pedrosa.

Fernando Cocchiarale e César Oiticica Filho
Comissários

Texto secundário: 

«Museu é o mundo; é a experiência cotidiana...»
Hélio Oiticica, 1966

«A obra de Hélio Oiticica configura um dos momentos mais significativos do século XX, que só em anos mais recentes tem vindo a ser descoberta e reavaliada, fora do Brasil, na extensão das suas profundas implicações.»
Pedro Lapa
Diretor artístico