Pedro Cabrita Reis. One after another, a few silent steps
Surge, na década de 1980, como um dos artistas mais afirmativos da sua geração. Convocou um universo de referências arcaizantes (mais míticas que históricas), universos de memória colectiva e revelação individual que o conduziram a uma intervenção directa sobre o tempo cultural português e internacional – quando interessava incorporar, na herança moderna mais radical, a possibilidade de regresso às disciplinas artísticas tradicionais: o desenho, a pintura, a escultura.
A obra de Cabrita Reis, que funciona como um sistema global de entendimento e intervenção no mundo, integra todas as disciplinas, materiais e linguagens do universo artístico actual; ocupa todos os espaços de exposição (interiores e exteriores, arquitectónicos e paisagísticos), integra e garante dignidade a todos os materiais do universo construtivo (ricos e pobres, tradicionais e inesperados) e concretiza, pelo uso intenso da iluminação artificial e da cor, mas também pelo obscurecimento das imagens, todas as metáforas da luz.
Esta exposição antológica estabelece um percurso labiríntico e coloca em diálogo obras afastadas nos tempos e modos de fazer. Continuidades, tensões e rupturas, saltos e regressos, fazem-nos entender a sua obra como um vasto campo de possibilidades onde a pintura continua a ser matriz do pensamento visual e prática artística.
Disciplina de composição, jogos de perspectiva, entendimento arquitectónico dos volumes ou aposta na continuidade temporal através de séries temáticas representam soluções de equilíbrio das formas, dos espaços e dos tempos que enquadram a provocação subjectiva e social das suas obras e sustentam o abismo obscuro onde se precipita o seu significado.
Interessado numa abordagem antropológica e artística, política e poética, Cabrita Reis parte do seu próprio corpo para impor as medidas do humano ao mundo das coisas construídas – um mundo que ele mesmo ergue a partir da recolha sistemática de objectos «encontrados» e «já-feitos». A natureza, contemplada e intervencionada, é integrada nesse discurso a partir das mesmas soluções de recolha ou registo fotográfico e desenho. Cabrita Reis relaciona o real urbano e contemporâneo e as apostas de efemeridade da arte actual com uma vontade de intemporalidade e permanência.
É na gestão deste conjunto de valores que Cabrita Reis afirma a raiz de um classicismo que sugere a existência do cânone e do estilo, do equilíbrio, da força e da construção sobre o abismo do desvio, da velocidade e da vertigem. Isso mesmo confirma na relação directa que estabelece entre o circuito de exposições internacionais que frequenta, o trabalho de atelier, em Lisboa, e a vida na serra algarvia: modela as suas casas e a paisagem envolvente como volumes escultóricos, planta oliveiras, vinha e alfarrobeiras como ocupa uma tela e estabelece, no trato local, o mesmo nível de intimidade e exigência que usa no meio artístico.
João Pinharanda
[Por opção do autor, este texto não observa as regras do Acordo Ortográfico em vigor]
«Pedro Cabrita Reis transforma a memória colectiva em afirmação individual: é um acto de vontade e prazer, um modelo de conhecimento e intervenção no mundo.»
João Pinharanda
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