Raúl Perez. Desenho e Pintura, 1963-2008
Raúl Perez, nascido no Minho em 1944, realizou a sua primeira exposição aos 28 anos. Ligado à corrente surrealista portuguesa, em particular a Cruzeiro Seixas, Raúl Perez consegue incluir-se nesta continuidade e, simultaneamente, libertar-se dela. Com obras expostas na Galeria de São Mamede em 1972, 1982 e 1985, participou igualmente em diversas exposições organizadas pelo escritor e pintor Mário Cesariny (1923-2006).
O surrealismo é, evidentemente, uma referência estruturante na obra de Raúl Perez mas, com a chegada tardia desta corrente artística a Portugal, teve aqui uma expressão muito residual. Personagem polémica e contestada, Mário Cesariny acreditava que «a ausência de estruturação conferiu ao surrealismo português uma enorme vitalidade externa» e salientava que em Portugal nunca existira um movimento surrealista, nem mesmo no ano da existência pública (1948-1949) do Grupo Surrealista de Lisboa. Este, após a publicação de quatro opúsculos, de uma manifestação pública e de uma exposição de pintura, acabou por se extinguir, dando lugar a um outro grupo que também desapareceria pouco depois. «O surrealismo português viveu e morreu, sem qualquer dúvida, clandestinamente.»
Raúl Perez é, evidentemente, herdeiro desta história, mesmo se enquadrando-se, antes de mais, nessa corrente outrora celebrada por André Breton, a da «arte mágica». Sonhos transformados em aparência e substância, as suas obras, simultaneamente inquietantes e perfeitas, assentam na materialização do enfeitiçamento.
«A pintura de Raúl Perez, que aliás recusa a ligação a qualquer movimento, situa-se na proximidade do Surrealismo, ultrapassando-o, pelo seu enraizamento numa antropologia do imaginário, intemporal, revelando uma visão sociológica do seu tempo. [...] Raúl Perez poderá ter um parentesco e mais recentemente com os expoentes da pintura metafísica (De Chirico) e do Surrealismo internacional. De Chirico apresenta a atmosfera inquietante de uma espera que não vislumbra o seu objecto, de Delvaux, Magritte, Ernst ou Dalí, o sentido do maravilhoso que o aproxima de um domínio encantado da sensibilidade, de uma visão que não duplica o real, mas é o seu espelho fantástico. De todos se demarca no entanto, abdicando praticamente do elemento mais característico da pintura, a cor. Para o mundo da sua arte, a preto e branco, optou por uma depuração cromática que talvez seja um modo de insistir sobre o essencial. [...] O universo assombroso de Raúl Perez que hoje se oferece à nossa decifração situa-se e situa-nos na atmosfera sombria dos sonhos da noite, e vem, no caudal de imagens que alimentam o nosso imaginário, definir um território, um horizonte de trevas, onde adivinhamos o retrato em abismo de uma aventura e de uma desventura ocidentais.»
Maria João Fernandes [Excerto do texto Figuras da Esfinge na pintura de Raúl Perez, publicado no catálogo da exposição]
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