Tudo o que é sólido dissolve-se no ar: O social na Coleção Berardo
«Tudo o que era sólido e estável dissolve-se no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e os seres humanos são, finalmente, obrigados a encarar, prosaicamente e sem ilusões, a sua posição na vida, bem como as suas relações recíprocas.» Esta passagem do Manifesto do Partido Comunista, redigido por Karl Marx e Friedrich Engels em 1848, traduz o caráter revolucionário do capitalismo moderno, que transformou a Europa em meados do século XVIII. A observação de Marx e Engels congrega, pois, um sentido de mudança na sociedade, processo que implica a substituição de uma ordem simbólica por outra. Tal insinua-se, aliás, no início da frase, cuja metáfora de reminiscências científicas extravasou o vocabulário político e alcançou outros meios intelectuais. Esta circunstância evidencia-se, por exemplo, num livro de Marshall Berman publicado em 1982, All That Is Solid Melts Into Air: The Experience of Modernity, cuja designação cita a tradução inglesa das palavras de Marx e Engels e que, como sugerido pelo subtítulo, estuda a experiência da modernidade, laboratório do mundo atual.
Tudo o que é sólido dissolve-se no ar: o social na Coleção Berardo é uma exposição a cujo princípio organizador subjaz a mesma estratégia. Inspira-se, assim, nos termos de Marx e Engels para equacionar o renascimento do primado do social na arte, condição da sua existência enquanto instrumento de emancipação da humanidade. Na esteira das análises de investigadores como Hal Foster, a «estética da recessão» manifestada pela presente crise financeira global, mas que uma década marcada pela «condição precária» já prenunciara, chamou a atenção para as práticas socialmente comprometidas características da arte moderna e contemporânea que os circuitos artísticos institucionalizados ostracizaram até hoje. É sob este prisma que se desenvolveu mais um percurso pela Coleção Berardo. Balizadas entre as visões utópicas das vanguardas modernistas e a ideologia de «protesto e sobrevivência» pós-queda do Muro de Berlim, as obras deste acervo agora reunidas, a par de outras solicitadas a vários artistas, convocam problemáticas do quotidiano que enunciam uma crítica do real.
Miguel Amado, Comissário
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Museu Coleção Berardo
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