Warhol TV

Warhol TV
Exposição temporária
Autor(es): 
Andy Warhol
26/07/2010
- 14/11/2010
Piso: 
-1
Curadoria: 
Judith Benhamou-Huet
Warhol TV
Exposição temporária
Autor(es): 
Andy Warhol
26/07/2010
- 14/11/2010
Piso: 
-1
Curadoria: 
Judith Benhamou-Huet
Corpo de texto: 

«No ar.» Usamos habitualmente esta expressão para programas que são transmitidos na televisão: «estar no ar». Nenhumas outras palavras poderiam estar tão indicadas para Andy Warhol. O artista não se «punha ares». Gostava de reproduzir a realidade, mesmo se travestida. […] O que é que Andy Warhol queria exibir? A sua própria era. Pois, no fim de contas, Warhol não mostrava muito de si na televisão. O que ele mostrava era o seu mundo.

Andy Warhol era filho da geração televisiva. Tinha nascido a 6 de Agosto de 1928 em Pittsburgh, apenas dois anos depois de o escocês John Logie Baird ter dado os toques finais no primeiro «televisor» que iria ser distribuído, a partir de 1930, pela Inglaterra. No mundo ocidental do pós-guerra, ter uma televisão representava um sinal de ascensão social. A criança que ainda era conhecida como Andrew Warhola vinha de uma família de Pittsburgh extremamente pobre, e não sabemos em que data teve acesso ao objeto de culto da sociedade capitalista americana. Contudo, temos o seu próprio relato da experiência: «De regresso do psiquiatra, parei no Macy’s e, num impulso súbito, comprei o meu primeiro televisor [...]. Deixava a televisão ligada o tempo todo, sobretudo quando havia pessoas a falar comigo sobre os seus problemas, e apercebi-me de que a televisão desviava a minha atenção o suficiente para que os problemas que as pessoas me estavam a contar já não me afectassem. Era como uma coisa mágica.»

Num artigo publicado na revista Esquire em 1975, no qual listava os seus doze programas preferidos de televisão, colocou I Love Lucy num bom lugar. Foi uma das primeiras comédias de situação a ir para o ar, tendo começado em 1951 mas nunca tendo realamente saído dos ecrãs americanos de televisão, apesar de o último episódio datar de 1957. Warhol não desconhecia o facto de os dois actores principais da série, Lucille Ball e Desi Arnaz, serem também um casal na vida real. […] A comédia moldava-se a partir da vida dos actores. […] Para a sua própria televisão, Warhol fez a mesma coisa. Os amigos apareciam na Factory para almoçar? Eram filmados. Liza Minelli vem ver o retrato dela? Está a ser filmada. Paloma Picasso faz uma nova coleção de joalharia para a Tiffany’s? Tragam-na ao estúdio e façam-lhe perguntas sobre o pai. Warhol tem um instrutor de ginástica? Pode fazer flexões para o ecrã...

Tal como nos seus primeiros filmes, Sleep (1963) ou Empire (1964), se pudesse, Warhol teria a câmara a gravar sem parar, tal como deixava o seu gravador de cassetes ligado, a gravar as conversas da Factory mesmo depois de se ir embora. Ou então sentava-se e ia fazendo perguntas sobre as pessoas que por ali passavam. Era a televisão da realidade do mundo de Warhol. […]

Mas temos de reconhecer que o mais perturbante da televisão de Warhol é o facto de o artista ter feito programas de televisão que são isso mesmo e que não pretendem ser nada mais. No mesmo período, outros artistas também «se atiravam» à televisão, mas de forma militante. [...] As iniciativas feitas por artistas procuravam, normalmente, quebrar o fluxo tradicional da televisão clássica. Warhol, pelo contrário, jogou o jogo dos media. Com ele, encontramos informação e até informações práticas sobre «como usar a sua maquilhagem», mas também caras novas, sons novos, sedução, celebridade. Se tivermos em mente quem era Warhol, tratava-se, de facto, de uma maneira sua de fazer programas de televisão ready-made.

A intenção inicial de Warhol, quando ainda conseguia, de facto, fazer televisão, tinha sido chamar ao seu programa «Nothing Special» [Nada de Especial]. Nada de especial, com efeito. É apenas televisão. Mas televisão feita por Andy Warhol.

Judith Benhamou-Huet, Curadora
[Excerto do texto «No Ar», publicado no catálogo da exposição, aqui]