O colecionador

O colecionador
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José Manuel Rodrigues Berardo nasceu na Ilha da Madeira, Portugal, a 4 de julho de 1944. Após a conclusão da escola primária, inicia o curso de contabilidade. Com 13 anos e meio, começa a trabalhar na Madeira Wine Company. Nesta altura, nasce a sua paixão pelo colecionismo. Rigoroso e metódico, começa por juntar selos, caixas de fósforos e postais de navios, aproveitando a ligação com os turistas dos navios que visitam o Funchal.

Em 1963, com 18 anos, emigra para a África do Sul. Chegado a Joanesburgo, começa por trabalhar numa loja de produtos agrícolas, da qual viria a ser sócio. O negócio permitiu o contacto com o setor mineiro; antecipando a subida do preço do ouro, Berardo dedica-se à reciclagem dos desperdícios, reiniciando a exploração das minas desativadas que entretanto havia adquirido. Rapidamente, torna-se proprietário de várias refinarias em minas de ouro e de diamantes, alargando os seus negócios ao mercado bancário e ao mercado bolsista.

Nunca descurando a vida pessoal, casa-se com Carolina Gonçalves em 1969. Dois anos mais tarde, nasce o seu primeiro filho; no ano seguinte, a filha mais nova. Com família constituída e integrado socialmente, José Berardo continua a prosperar e a diversificar os seus negócios. Entra no ramo do mármore e dos granitos, chega ao petróleo, às telecomunicações, ao material informático, ao papel e até ao cinema. Com maior poder financeiro, decide iniciar a sua primeira coleção de arte.

Na década de 1980 é nomeado presidente do Bank of Lisbon e pouco tempo depois integra o Conselho Consultivo do Presidente da República da África do Sul. Assumindo-se contra o Apartheid, toma um papel ativo no país e atua desde dentro do Partido Nacional para acabar com o sistema de segregação racial.

Na segunda metade da década de 1980, diversifica a localização dos seus negócios, expandindo para o Canadá, Portugal e a Austrália. As viagens constantes, a intensificação da violência na África do Sul e o apelo da sua terra natal ditaram o regresso à pátria.

Em Portugal continua a desenvolver negócios nas mais variadas áreas. Inicia-se na indústria tabaqueira, e rapidamente ganha relevo na banca, na hotelaria, na imobiliária, nos média, na cortiça, nos vinhos, na moda, entre muitos outros. Em 1988 realiza um sonho, comprando a Quinta do Monte Palace, no Funchal, há muito votada ao abandono, e doa-a à fundação que instituiu com o seu nome e da qual é presidente. A quinta, alvo de um grande processo de recuperação e reflorestação, reabre ao público a 5 de outubro de 1991, sendo atualmente um dos ex-líbris da Madeira pela conjugação da natureza com algumas das suas coleções.

Nos anos 90, lança como grande prioridade a criação da Coleção de Arte Moderna e Contemporânea. O contacto e aconselhamento com especialistas foram fundamentais para traçar um tema — o século XX —, bem como uma estratégia de aquisição, que permitiu comprar obras de excecional qualidade. Atento às oportunidades do mercado, guiado por um impulso carregado de intuição, construiu a Coleção Berardo, considerada atualmente uma das melhores coleções privadas da Europa e uma referência internacional.

Esta coleção é hoje a base do acervo que a Fundação de Arte Moderna e Contemporânea — Coleção Berardo tem aberto ao público desde 2007 no Museu Coleção Berardo, em Belém, Lisboa. Através de um protocolo de comodato a dez anos, a criação do museu permitiu ao Estado português, em parceria com a FAMC-CB, manter em Portugal uma coleção de arte moderna e contemporânea única, criando um fator de distinção e de atração cultural nacional e internacional.

Após a abertura do Museu Coleção Berardo, Berardo já inaugurou o Underground Museum, nas caves da Aliança Vinhos de Portugal, no Norte de Portugal, onde mantém outras coleções em exposição; e o Buddha Eden, na Quinta dos Loridos, Bombarral, a noroeste de Lisboa, um espaço com cerca de 35 hectares, idealizado e concebido em resposta à destruição dos budas gigantes de Bamyan por parte dos talibã no Afeganistão, naquele que considerou um dos maiores atos de barbárie cultural, apagando da memória obras-primas do período tardio da arte de Gandara.

Colecionador de um ecletismo invulgar, desenvolveu coleções das mais variadas naturezas. A dedicação à cultura, às artes e à divulgação destas valeu-lhe várias distinções, não só em Portugal mas também no estrangeiro.

José Manuel Rodrigues Berardo é um homem de negócios, espalhados pelos quatro cantos do Mundo; contudo, é rodeado de beleza, na arte e na natureza, que se sente realizado.