Programa de conferências "Desdobramentos do readymade" | Luísa Ribas, “Os filhos ideais de Duchamp”

Programa de conferências "Desdobramentos do readymade" | Luísa Ribas, “Os filhos ideais de Duchamp”

30/12/22
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“Os filhos ideais de Duchamp”, por Luísa Ribas.

Conferência apresentada em 24-05-2018, integrada no Programa de conferências “Desdobramentos do readymade”, realizado no Museu Coleção Berardo.

“... in a way we are Duchamp's ideal children", declarou numa entrevista em 1997 o artista Vuk Ćosić, reconhecido como uma das principais figuras do movimento net.art.
Situa assim a genealogia de práticas que, nos anos 1990, assumem a internet como espaço de intervenção artística e que, através de estratégias como colaboração, participação, apropriação e partilha livre, evidenciam os ideais e modos de acção que este meio vem reforçar e possibilitar.
Esta afirmação é o mote para percorrer um conjunto de práticas artísticas que, actualmente, lançam uma visão renovada sobre a forma como a internet permeia o quotidiano e a cultura contemporânea. Manifestações concretas desta reflexão artística podem existir online e offline, cruzando contextos e exprimindo a crescente diluição do mundo digital e material. Nesse sentido, Marisa Olson afirma que “Tudo é sempre já PósInternet”. Esta noção sublinha igualmente como a nossa percepção e experiência é
moldada pela ubiquidade das tecnologias digitais, enquanto sintoma específico de uma estética e condição “pós-digital” que assinala tanto essa ubiquidade como a sua inevitabilidade.

Biografia
Luísa Ribas é doutorada em Arte e Design (2012), mestre em Arte Multimédia (2002) e licenciada em Design de Comunicação (1996) pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. É professora auxiliar na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa onde lecciona Design de Comunicação com foco na complementaridade entre media impressos e digitais, nomeadamente nos domínios do projecto de design, no âmbito do Mestrado em Design de Comunicação e Novos Media. A
sua investigação dedica-se ao estudo de sistemas computacionais enquanto artefactos estéticos, o seu design e experiência, focando a interactividade e audiovisualidade.
Actualmente integra o CIEBA, Centro de Investigação e de Estudos em Belas-artes e colabora com o ID+, Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura, tendo contribuído para diversas publicações sobre design e artes digitais, ou conferências internacionais como xCoAx, dedicada à Computação, Comunicação e Estética.

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Programa de conferências “Desdobramentos do readymade” que aconteceu no dia 24-05-2018, no Museu Coleção Berardo.

Este programa de conferências procura perspetivar as ruturas artísticas introduzidas pelo readymade duchampiano e as múltiplas “ressonâncias” deste nos desenvolvimentos da arte contemporânea produzida entre 1960 e a atualidade.
Mas estas “ressonâncias”, como lhes chamou Thierry de Duve, valem sobretudo como desdobramentos. Se a pop reconsiderou a questão do objeto à luz de um novo quadro cultural de produção industrializada, e se algum conceptualismo reincidiu sobre a instância institucional da arte, auscultando as suas estruturas de poder; os apropriacionistas, por sua vez, retomaram os problemas do valor de cópia da obra de arte e da autoria através da interrogação dos mecanismos ideológicos envolvidos, quer na circulação e no consumo massificados da imagem, quer na construção do olhar ou da ideia de género.

No momento atual, a estratégia do readymade está integralmente assimilada pelas práticas artísticas e pelos discursos da história e crítica da arte. Contudo, não deixamos de reconhecer que ela participa também da apropriação da matéria digital junto de alguns artistas mais recentes, interessados nas condições de acaso e indeterminação do algoritmo, a par da flutuação global da imagem numérica ou dos processos de vigilância do digital e de recodificação dos comportamentos e subjetividades.

Nestas cinco conferências, propomos refletir sobre as relações, continuidades e deslocações que o readymade mantém com estes momentos particulares da arte contemporânea — sem esquecer de olhar para o ano de 1914, em que um secador de garrafas, apresentado como objeto artístico, mudaria o curso da história da arte, assim como a própria ideia de arte.

Programa
09h45. Acreditação
10h15. Abertura
10h30. Antinomias do readymade
             Pedro Lapa (FLUL)
11h30-11h45. Pausa
11h45. Objetualismo, iconografia e sociedade de consumo: uma prática apropriacionista na afirmação da Pop Art
              David Santos (DGPC)
12h45-14h15. Almoço
14h30. Duchamp disse: “isto é uma obra de arte”; Broodthaers disse: “isto não é uma obra de arte”
              Sofia Nunes (FCSH)
15h30. Pictures como readymade
              Susana Lourenço Marques (FBAUP)
16h30-17h00. Pausa
17h00. Os filhos ideias de Duchamp
              Luísa Ribas (FBAUL)

Organizado pela Revista Contemporânea em parceria com o Museu Coleção Berardo, com curadoria de Sofia Nunes. Entrada gratuita, sujeita ao número de lugares disponíveis.

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