Programa de conferências "Desdobramentos do readymade" | Sofia Nunes, “Duchamp disse: “isto é uma obra de arte”; Broodthaers disse: “isto não é uma obra de arte””

Programa de conferências "Desdobramentos do readymade" | Sofia Nunes, “Duchamp disse: “isto é uma obra de arte”; Broodthaers disse: “isto não é uma obra de arte””

30/12/22
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“Duchamp disse: “isto é uma obra de arte”; Broodthaers disse: “isto não é uma obra de arte””, por Sofia Nunes.

Conferência apresentada em 24-05-2018, integrada no Programa de conferências “Desdobramentos do readymade”, realizado no Museu Coleção Berardo.

Na viragem da década de 1960 para a década de 1970, o readymade conheceu novos desenvolvimentos junto dos conceptualistas, associados à primeira geração da Crítica Institucional, que redirecionaram a prática duchampiana para um trabalho de questionamento sobre os enquadramentos discursivos e ideológicos da instituição
artística.
Agora que o Museu passava a organizar-se em conformidade com as regras gerais de produção e circulação da sociedade capitalista avançada, sobredeterminando a obra de arte a essas mesmas regras, “estava claro”, como dizia Marcel Broodthaers, “que já não
era suficiente acrescentar um bigode à Mona Lisa”. Para si, a nova situação cultural urgia afinal uma crítica perene ao museu e não um ataque às convenções artísticas, por onde a aspiração à instituição museológica podia espreitar. Essa crítica encontrou, neste artista,
uma via específica e antagónica: o readymade jogado contra si mesmo.

Biografia
Sofia Nunes é crítica de arte e doutoranda em História da Arte / Teoria da Arte na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - UNL e na Université Paris 1 PanthéonSorbonne. Exerceu assistência de curadoria e produção de exposições no Museu do Chiado – MNAC, Ellipse Foundation e Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém (2000 a 2007). Foi professora convidada no Mestrado de Arte Contemporânea da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2009 a 2011). Escreve com regularidade para publicações, catálogos e revistas da especialidade (artecapital.net, Contemporânea, RE.VIS.TA, Art Agenda, ArtReview). Atualmente concebe e comissaria ações e programas públicos para museus e instituições de arte contemporânea.

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Programa de conferências “Desdobramentos do readymade” que aconteceu no dia 24-05-2018, no Museu Coleção Berardo.

Este programa de conferências procura perspetivar as ruturas artísticas introduzidas pelo readymade duchampiano e as múltiplas “ressonâncias” deste nos desenvolvimentos da arte contemporânea produzida entre 1960 e a atualidade.
Mas estas “ressonâncias”, como lhes chamou Thierry de Duve, valem sobretudo como desdobramentos. Se a pop reconsiderou a questão do objeto à luz de um novo quadro cultural de produção industrializada, e se algum conceptualismo reincidiu sobre a instância institucional da arte, auscultando as suas estruturas de poder; os apropriacionistas, por sua vez, retomaram os problemas do valor de cópia da obra de arte e da autoria através da interrogação dos mecanismos ideológicos envolvidos, quer na circulação e no consumo massificados da imagem, quer na construção do olhar ou da ideia de género.

No momento atual, a estratégia do readymade está integralmente assimilada pelas práticas artísticas e pelos discursos da história e crítica da arte. Contudo, não deixamos de reconhecer que ela participa também da apropriação da matéria digital junto de alguns artistas mais recentes, interessados nas condições de acaso e indeterminação do algoritmo, a par da flutuação global da imagem numérica ou dos processos de vigilância do digital e de recodificação dos comportamentos e subjetividades.

Nestas cinco conferências, propomos refletir sobre as relações, continuidades e deslocações que o readymade mantém com estes momentos particulares da arte contemporânea — sem esquecer de olhar para o ano de 1914, em que um secador de garrafas, apresentado como objeto artístico, mudaria o curso da história da arte, assim como a própria ideia de arte.

Programa
09h45. Acreditação
10h15. Abertura
10h30. Antinomias do readymade
             Pedro Lapa (FLUL)
11h30-11h45. Pausa
11h45. Objetualismo, iconografia e sociedade de consumo: uma prática apropriacionista na afirmação da Pop Art
              David Santos (DGPC)
12h45-14h15. Almoço
14h30. Duchamp disse: “isto é uma obra de arte”; Broodthaers disse: “isto não é uma obra de arte”
              Sofia Nunes (FCSH)
15h30. Pictures como readymade
              Susana Lourenço Marques (FBAUP)
16h30-17h00. Pausa
17h00. Os filhos ideias de Duchamp
              Luísa Ribas (FBAUL)

Organizado pela Revista Contemporânea em parceria com o Museu Coleção Berardo, com curadoria de Sofia Nunes. Entrada gratuita, sujeita ao número de lugares disponíveis.

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